Postado por Adm em 13/02/2012 ás 20:02
Carnaval em Salvador
Por Ritah Oliveira
Originária na Grécia antiga o Carnaval tinha por finalidade o agradecimento aos Deuses pela fertilidade do solo e pela produção. Adotada pela Igreja Católica em 590 d.C, e regida pelo calendário lunar da idade média, no cristianismo era historicamente marcado pelo "adeus à carne" ou do latim "carne vale" sendo esta a origem do termo "carnaval". Festa sem carne, ah..! No Brasil e na Bahia, na terra da magia, o sentido religioso da comemoração Cristã da Idade Média, se transforma e emerge da concentração de comportamentos contidos, recebendo influências da terra da alegria, onde todos os dogmas e configurações são absorvidos pelo estado de extravasar, colocar para fora, ou seja, um verdadeiro transbordar de sensações, inclusive as mais célebres manifestações de desejos carnais, onde devido ao excesso de CALOR HUMANO, transmitido a cada metro quadrado, são explícitas e estimuladas pela essência da folia, baiana, demonstrações de amor atingindo a plenitude da palavra.
Ao caminhar pela história do Carnaval de Salvador, vem a lembrança, as marchinhas de carnaval, os homens travestidos de mulheres, as caretas que intrigavam crianças, se segue pela entrega das chaves da cidade, à figura corpulenta do Rei Momo e suas princesas, onde este mítico representante passa a ser o governante supremo e soberano dos foliões e cidadãos Soteropolitanos, durante a folia. A ordem do governante é – ALEGRIA! ALEGRIA!.
Daí passará pelos bailes de máscaras nos tradicionais clubes, onde os confetes e serpentinas completavam a magia dos Pierrôs, Colombinas e das ricas fantasias. A região central da cidade se torna passarela para o desfile desta alegria em seus inúmeros blocos de fantasias e alegorias, tendo como trajeto do Campo Grande à Praça Castro Alves, o cortejo do samba de crioulo, e posteriormente nos idos de 1950, o antigo Ford 29 equipado com dois alto-falantes, forma a velha e histórica fóbica de Dodô e Osmar, tendo por característica, arrastar uma multidão sem cordas, na maior festa popular do mundo, estava assim sendo criado, após várias futuras adaptações - o trio elétrico, ícone do carnaval de Salvador.
Costuma-se dizer, que no carnaval de Salvador, todos os cantos e becos desta cidade respira-se um só sentimento, uma só emoção, todos são iguais e tem a mesma sintonia – a alegria. Falar de carnaval em Salvador, passa pela emoção de ver o Gandhi desfilar é assim que se chama o Afoxé Filhos de Gandhi, o “Tapete Branco da Avenida”, bloco em que milhares de homens vestem suas fantasias brancas, espalham o frescor da alfazema e distribuem suas guias de proteção para os que por eles passam.
Em seguida se assiste o desfile dos blocos afros, afinal Salvador é a faixa de terra mais negra do planeta depois do continente africano, ai se vê o mais tradicional deles - Ilê Aiyê, desfilando na madrugada, um espetáculo de raríssima beleza. As cores, os temas, a dança, o canto, as coreografias tudo extasia os participantes e quem assiste de fora. O Olodum, que com sua inconfundível batida, ganhou o mundo, trazendo com as cores da Jamaica, no toque do samba-reggae, sob as influências musicais tanto de Salvador, Rio de Janeiro, Caribe, especificamente da ilha República Dominicana, mais esta contribuição de reverência aos nossos ancestrais, um padrão rítmico que podemos ouvir num toque de candomblé da nação Ketu, sair do pelourinho e transcorrer o percurso do desfile, no bumbar do Olodum, é algo realmente mágico.
Nas últimas décadas, Salvador atingiu merecidamente o patamar de circuito obrigatório para curtir as folias momescas. O fobicão de Dodô e Osmar, recebeu aparelhagem eletrizante, blocos e mais blocos arrastam milhares de foliões ensandecidos pelas músicas do estilo Axé Music, difundido por Luis Caldas e modelado pelas outras estrelas do Carnaval, hospedados em cima do TRIO ELÉTRICO, aquele que se originou da fóbica dos amigos Dodô e Osmar, se transformou em gigantescos carros de som que percorrem as ruas da cidade por vários dias e contam com, a participação de reis e rainhas, músicos como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Ivete Sangalo, Daniela Mercury, Chiclete com Banana, Asa de Águia e muitos outros, pois a cada ano surgem mais estrelas da música baiana, formando uma constelação de extrema grandeza.
Há quem diga que essa festa popular, virou produto para atrair turista e não mais espaço para manifestações culturais, o que é fortemente combatido pelos organizadores e seus parceiros. Carnaval é uma festa do povo, para o povo e com o povo!. Acreditamos que o carnaval de Salvador atingiu seu limar e, portanto, com o desenvolvimento tecnológico este também passou por adaptações, trazendo uma nova roupagem, ou seja, aumentou o leque de opções. Hoje podemos dizer que Salvador, tem Carnaval para cada tipo de gosto e ritmos e que em cada uma das concentrações, sejam nos blocos, camarotes estilizados e duplicação de percurso para desfile, a velha ordem do rei momo continua – ALEGRIA! ALEGRIA!. Durante a viagem pela história do carnaval de Salvador, se constata a máxima de uma composição de Caetano Veloso que diz: Atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu.
Pode-se afirmar com este texto que o Carnaval de Salvador, não mudou, ele apenas modernizou-se, o Rei Momo continua reinando, as fantasias dos blocos devido ao aquecimento global, transformaram-se nos abadás, a fim de driblar o excessivo calor. Os bailes nos clubes migraram para os Camarotes, a fóbica se transformou no trio elétrico, o percurso cresceu, foi para a Barra, o Gandhi continua trazendo paz ao desfile e o Ilê continua sendo o mais belo dos belos. Assim a viagem pelo Carnaval de Salvador, termina onde começou, na maior manifestação cultural de alegria de um povo, de onde o sagrado e o profano fazem a festa, que entrou para o Guinness como o maior carnaval de rua do mundo, juntamente com o carnaval de New Orleans, onde a ALEGRIA e a felicidade exalam por todos os poros e cantos da Cidade de Salvador.